sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

COMPROMISSO

MEU COMPROMISSO ENQUANTO EDUCADOR É CHEGAR PELO MENOS PERTO DO QUE PAULO FREIRE FALA NA INTRODUÇÃO À CARTAS A CRISTINA.

Escrever, para mim, vem sendo tanto um prazer profundamente experimentado quanto um dever irrecusável, uma tarefa política a ser cumprida.

A alegria de escrever me toma o tempo todo. Quando escrevo, quando leio e releio o que escevi, quando recebo as primeiras provas impressas, quando me chega o primeiro exemplar do livro já editado, ainda morno, da editora.

Em minha experiência pessoal, escrever, ler e reler as páginas escritas, como também ler textos, ensaios, capítulos de livros que tratam o mesmo tema sobre que estou escrevendo ou temas afins, é um procedimento habitual. Nunca vivo um tempo de puro escrever, porque para mim o tempo de escrita é tempo de leitura e de releituras. Todo dia, antes de começar a escrever, tenho de reler as vinte ou trinta páginas do textos em que trabalho e, de espaço a espaço, me obrigo à leitura de todo o texto já escrito. Nunca faço um coisa só. Vivo intensamente a relação indicotomizável escrita-leitura. Ler o que acabo de escrever me possibilita escrever melhor o já escrito e me estimula e anima a escrever o ainda não escrito.

Ler criticamente o que escrevo no momento mesmo em que me acho no processo de escrever me "fala" do acerto ou não de que fui capaz. Em última análise, é lendo e relendo o que estou escrevendo que me torno mais apto para escrever melhor. Aprendemos a escrever quando, lendo com rigor o que escrevemos, descobrimos ser capazes de reescrever o escrito, melhorando-o, ou mantê-lo por nos satisfazer. Mas, como disse antes, escrever não é uma questão apenas de satisfação pessoal. Não escrevo somente porque me dá prazer escrever, mas também porque me sinto politicamente comprometido, porque gostaria de convencer outras pessoas, sem a elas mentir, de que o sonho ou os sonhos de que falo, sobre o que escrevo e porque luto valem a pena ser tentados. A natureza política do ato de escrever, por sua vez, exige compromissos éticos que devo assumir e cumprir. Não posso dar a impressão de que tenho conhecimento disto ou daquilo sem o ter. Não posso fazer citação de pura frase, sugerindo aos leitores que li a obra toda do autor citado. Me faltará autoridade para continuar escrevendo ou falando de Cristo se discrimino o meu vizinho porque é negro, o discrimino também porque é operário e a sua mulher é negra, operária e mulher.

Não se diga que esteja defendendo o exercício de escrever a puros anjos. Não, escrevem homens e mulheres submetidos a limites que devem ser tanto quanto possível por eles e elas conhecidos. Limites epistemológicos, econômicos, sociais, raciais, de classe etc. Uma fundamental exigência ética ante a qual devo estar sempre advertido é a que me cobra quanto ao conhecimento que devo ter de meus próprios limites. É que não posso assumir autenticamente o magistério sem ensinar ou ensinando errado, desorientando, falseando. Na verdade, não posso ensinar o que não sei. Não ensino lucidamente quando apenas sei o que ensino, mas quando tenho o alcance de minha ignorância, quando sei que não sei ou que não estou sabendo.

Só quando sei cabalmente que não sei ou que sei, falo do não sabido não como se o soubesse, mas como ausência superável de conhecimento. E é assim que parto melhor para conhecer o ainda não-sabido.

Sem humildade, dificilmente cumpro essa exigência. É que, inulmide, recuso reconhecer minha incompetência, o melhor caminho para superá-la. E a incompetência que escamoteio e disfarço termina por, desnudando-se, desmascarar-me.

O que se espera de quem escreve com responsabilidade é a busca permanente, incansável, da pureza que recusa a hipocrisia puritana ou a desfaçatez da sem-vergonhice. O que se espera de quem ensina, falando ou escrevendo, em última análise, testemunhando, é que seja rigorosamente coerente, que não se perca na distância enorme entre o que faz e o que diz.

Fonte: Introdução à Cartas a Cristina. Paulo Freire. Paz e Terra. 1994. Rio de Janeiro. Páginas 15 a 17.

Grifos meus.
Uma professora me indicou essa leitura. Ela me ensinou bem. Lembro-me sempre dessa leitura. Copiei o texto no caderno de anotações. Texto perfeito para se discutir sempre na escola.

Compromisso: que eu escute Paulo Freire.

Breno José de Araújo
Pedagogo
Ibirité - Minas Gerais
16 de dezembro de 2011.

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Dermeval Saviani em sua obra: Escola e Democracia – polêmicas do nosso tempo diz:

Uma pedagogia articulada com os interesses populares valorizará, pois, a escola; não será indiferente ao que ocorre em seu interior, estará empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos.

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